quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mailson da Nóbrega: ‘Os EUA não estão em declínio’

mailson_da_nobrega.JPGMailson da Nóbrega* (foto), em artigo para oRadar Econômico, afirma que os Estados Unidos não estão em declínio e indica a leitura de uma análise publicada no site Project Syndicate.
Os Estados Unidos não estão em declínio
“Eu nunca comprei a tese, defendida aqui e lá fora, de que os Estados Unidos estariam em declínio. É difícil imaginar que um país dotado de tantos recursos econômicos, sociais, políticos e militares esteja perdendo sua liderança. Basta mencionar que 17 das 20 melhores universidades em todo o mundo são americanas. A produção de artigos científicos e os gastos com defesa são maiores do que os dos demais países reunidos. Em algum momento nos próximos anos, o PIB (produto interno bruto) da China poderá ultrapassar o dos Estados Unidos, mas isso não significará um declínio relativo. O poderio militar e econômico, a renda per capita e os níveis de bem estar americanos ainda serão muito superiores aos da China.
Inspirado na recente eliminação de Osama Bin Laden por tropas americanas, o professor da Universidade Harvard, Joseph S. Nye, escreveu interessante artigo com uma análise penetrante sobre o tema. Para ele, o termo ‘declínio’ é confuso. Primeiro porque a posse de recursos de poder não implica obter resultados desejados. De fato, mesmo na era da alegada hegemonia americana, o país obteve êxito em apenas um quinto dos esforços para provocar mudanças em outros países, via ações militares. Sanções econômicas funcionaram somente em metade dos casos.
Nye assinala que se pode falar em declínio absoluto – a incapacidade de usar efetivamente os recursos de poder de um país – e declínio relativo, no qual outros Estados podem usar seus recursos de maneira mais efetiva. Por exemplo, no século XVII, a Holanda prosperava, mas declinou em termos relativos porque outros países avançaram mais. O declínio do Imperío Romano não foi causado por sua submissão a outros Estados, mas pela decadência interna e pela decorrente invasão dos bárbaros.
O autor mostra que não há como falar em declínio americano tomando a queda de Roma como exemplo. Tampouco é possível fazaer comparações utilizando o declinio do Império Britânico, embora isso seja muito popular. As diferenças são muitas. Na Primeira Guerra, a Grã-Bretanha figurava em quarto lugar entre as grandes potências em termos de tropas, quarto em PIB e terceiro em gastos militares. A posição geopolítica dos Estados Unidos difere muito da britânica. Enquanto o Reino Unido enfrentava na época a emergência de poderes vizinhos (Alemanha e Rússia), os americanos se beneficiavam (como ainda hoje) de sua localização entre dois oceanos e de ter vizinhos muito fracos.
Apesar disso, os americanos são propensos a ciclos de crença no declínio do país. Seus pais fundadores se preocupavam com as comparações que então se faziam com o declínio de Roma. Isso aconteceu também quando os soviéticos lançaram o primeiro satélite, o Sputnik, em 1957. O pessimismo esteve presente nos choques econômicos do período Nixon e nos déficits públicos da era Reagan, quando os americanos acreditavam que o declínio seria inevitável. Uma década depois, mudaram de opinião diante do seu forte crescimento econômico e passaram a falar em superpotência única. Nye não menciona, mas o sentimento de declínio era generalizado nos anos 1970, diante do êxito econômico japonês. Muitos americanos consideravam que o Japão caminhava para ser a maior potência.
Uma leitura atenta desses e de outros aspectos abordados no artigo mostram que os Estados Unidos estão longe da ameaça de perder sua condição de potência hegemônica. Pode vir a dividir esse status com países como China, Índia e Brasil nos próximos anos, mas sem resvalar para a condição de uma potência de segunda classe. “
Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico, indicando artigos e reportagens relevantes da imprensa nacional e estrangeira.
Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog

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